domingo, 9 de fevereiro de 2014

Concórdia

Pelo chão atapetado com tapete espesso e com muitíssimo bom aspecto, espalhava-se um conjunto de variadas coisas o que conferia ao tapete, muito mau aspecto: garrafas meio vazias, umas champagne, outras, não, roupas femininas, algumas íntimas, outras não, dois pares de sapatos, um deles de mulher, e mais uma quantidade de coisas que resultaria fastidioso descrever.
A cama, tamanho “XXL”, estava igualmente um caos assim como os dois personagens que na mesma dormiam o sono dos bêbados de dupla embriaguez: a da bebida e a do sexo.
De repente, um estrondo enorme abalou toda a estrutura do gigantesco navio de cruzeiros de luxo.
Acordando estremunhada a beleza italiana abanou o profundamente adormecido Comandante que continuou exactamente na mesma.
Só ao terceiro abanão o homem se soergueu sobre o braço direito para perguntar:
‘Que foi? Que queres minha diva? Deixa-me dormir, recuperar um pouco que seja e já voltamos ao que estávamos a fazer.’
Mas, a diva, não lhe deu descanso e continuou a abaná-lo até que o Comandante se sentou no vasto leito e, esfregando os olhos pesadíssimos dos excessos de minutos antes, olhou em volta verificando a estranha posição que alguns dos móveis e quadros nas paredes estavam a tomar: deslizando uns, inclinando-se, outros.
Novo estrondo acompanhado de violento estremeção do navio veio acordar, definitivamente o glorioso Comandante.
‘Mas que se passa? O que é isto?’ perguntava a completamente desperta e também visivelmente assustada mulher. ‘Parece que batemos em qualquer coisa!’
O Comandante, específico como era, replicou:
‘Bom, querias ver a ilha de perto não é verdade? Eu, faço tudo para satisfazer uma diva como tu. Mas não te preocupes, eu bem te disse que conhecia esta costa como ninguém. Não há rocha nem escolho que eu não conheça mesmo a dormir. Pois bem, emala a trouxa e veste qualquer coisa porque devemos ter abalroado um desses escolhos…’

E, enquanto a jovem se vestia num ápice, o Comandante, mesmo em cuecas abriu a porta e, correndo como um louco, atirou-se para dentro de um dos primeiros salva-vidas que, entretanto, já boiavam nas águas mediterrânicas onde o Concórdia, ferido de morte, se inclinava de bordo com assustadora rapidez.