No dia 27 numa cerimónia
presidida pelo professor Adriano Moreira serão concedidas condecorações a três
pessoas em reconhecimento das suas vidas de Fé e de empenho pela liberdade -
Faith and liberty life tribute. Uma dessas pessoas, que será apresentada pelo
reitor da ucp, professor Manuel Braga da Cruz, é Maria Barroso Soares.
Maria Barroso na sua qualidade de
presidente da pro dignitate estampou um artigo no jornal Público, 08.02.2007,
aquando do último referendo sobre o aborto, intitulado “sim à despenalização”.
Nesse texto soezmente tendencioso procurou propagandear de um modo manhoso o
“sim” à liberalização do aborto, citando inclusive, tirando embora a frase do
seu contexto, o Cardeal Patriarca de Lisboa. Assim termina o seu perverso
artigo: “Não nos podemos … levar apenas por impulsos ou sentimentos suscitados
e explorados por cidadãos não tolerantes (os que eram pelo “Não”) que extremam,
acaloradamente, as suas posições. … Em suma - pelo direito à felicidade das
crianças que nascem, e o direito à dignidade das mulheres - eu devo votar pela
liberdade que deve ser concedida às mulheres de fazerem, em consciência, a sua
escolha. Digo, com Frei Bento Domingues: «O "sim" à despenalização da
interrupção voluntária da gravidez dentro das dez semanas é contra o sofrimento
das mulheres redobrado com a sua criminalização. Não pode ser confundido com a
apologia da cultura da morte, da cultura do aborto.»”.
Quanto ao empenho desta senhora
pela liberdade as palavras do Bem-aventurado João Paulo II são esclarecedoras:
“Reivindicar o direito ao aborto … e reconhecê-lo legalmente, equivale a
atribuir à liberdade humana um significado perverso e iníquo: o significado de
um poder absoluto sobre os outros e contra os outros. Mas isto é a morte da
verdadeira liberdade: «Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete
o pecado é escravo do pecado» (Jo 8, 34).” (João Paulo II, O Evangelho da vida,
nº 20). E ainda: “No referente ao direito à vida, cada ser humano inocente é
absolutamente igual a todos os demais. Esta igualdade é a base de todo o
relacionamento social autêntico, o qual, para o ser verdadeiramente, não pode
deixar de se fundar sobre a verdade e a justiça, reconhecendo e tutelando cada
homem e cada mulher como pessoa, e não como coisa de que se possa dispor.
Diante da norma moral que proíbe a eliminação directa de um ser humano
inocente, «não existem privilégios, nem excepções para ninguém. Ser o dono do
mundo ou o último "miserável" sobre a face da terra, não faz
diferença alguma: perante as exigências morais, todos somos absolutamente
iguais».” (Idem nº 57). Por isso: “no caso de uma lei intrinsecamente injusta,
como aquela que admite o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito conformar-se com
ela, «nem participar numa campanha de opinião a favor de uma lei de tal
natureza, nem dar-lhe a aprovação com o próprio voto».” (Idem, nº 73). De
facto, “O aborto e a eutanásia são … crimes que nenhuma lei humana pode
pretender legitimar. Leis deste tipo não só não criam obrigação alguma para a
consciência, como, ao contrário, geram uma grave e precisa obrigação de opor-se
a elas através da objecção de consciência.” (Ibidem).
Quanto à Fé: “ … a
inviolabilidade absoluta da vida humana inocente é uma verdade moral
explicitamente ensinada na Sagrada Escritura, constantemente mantida na
Tradição da Igreja e unanimemente proposta pelo seu Magistério. Tal unanimidade
é fruto evidente daquele «sentido sobrenatural da fé» que, suscitado e apoiado
pelo Espírito Santo, preserva do erro o Povo de Deus, quando «manifesta consenso
universal em matéria de fé e costumes». … Portanto, com a autoridade que Cristo
conferiu a Pedro e aos seus Sucessores, em comunhão com os Bispos da Igreja
Católica, confirmo que a morte directa e voluntária de um ser humano inocente é
sempre gravemente imoral. Esta doutrina, fundada naquela lei não-escrita que
todo o homem, pela luz da razão, encontra no próprio coração (cf. Rm 2, 14-15),
é confirmada pela Sagrada Escritura, transmitida pela Tradição da Igreja e
ensinada pelo Magistério ordinário e universal.” (Idem, nº 57). Esta afirmação,
como o ensina a Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio Ad Tuendam Fidem,
deve ser crida com fé divina e católica: “Deve-se crer com fé divina e católica
em tudo o que se contém na palavra de Deus escrita ou transmitida por Tradição,
ou seja, no único depósito da fé confiado à Igreja, quando ao mesmo tempo é
proposto como divinamente revelado quer pelo magistério solene da Igreja, quer
pelo seu magistério ordinário e universal …”. Pelo que quem duvida ou nega
obstinadamente esta verdade incorre no crime e na censura de heresia,
excluindo-se da Igreja.
Segundo a doutrina de sempre da Igreja,
confirmada pela encíclica Veritatis Splendor do Bem-aventurado João Paulo II, a
cooperação formal com o mal, como seja, por exemplo, a votação ou promulgação
de uma “lei” injusta que admite o aborto ou a eutanásia, é sempre ilícita. No
caso em apreço isto significa que quem votou no “sim” tornou-se moralmente
responsável pelos abortamentos de todas as crianças nascituras realizadas ao
abrigo da “lei” e por todas as demais consequências, tanto as previsíveis como
também as imprevisíveis.
Por tudo o que fica dito e pelo
mais que se podia acrescentar invade-me uma enorme amargura e uma melancólica
indignação por se prestar este tributo a tal personagem. Tanto mais que isso
confirmá-la-á no seu pecado e constituirá um escândalo (teológico), isto é,
induzirá muitos ao pecado.
Conta-se que Mário Soares teria
dito um dia que casou com uma Passionária e agora se encontrava casado com uma
Madre Teresa de Calcutá. Caso isto seja certo posso garantir com toda a
segurança a Mário Soares que sua mulher não se transformou, nem por sombras,
numa Madre Teresa.
Nuno
Serras Pereira
15.
06. 2012
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